DA PRA BEBER ESSA AGUÁ??????
Agrotóxicos, metais
pesados e substâncias que imitam hormônios podem estar na água que chega
à torneira da sua casa ou na mineral, vendida em garrafões e restaurantes
Pesquisar sobre a água não é fácil.
Não existem leis ou regras que definam um critério uniforme para a divulgação
de dados. Esperei mais de 15 dias, por exemplo, para receber as análises de
qualidade para o município de São Paulo, segundo as normas da Portaria
2.914/2011, do Ministério da Saúde. Os mesmos resultados para o Rio de Janeiro
estão disponíveis para consulta de qualquer pessoa no site da Companhia
Estadual de Águas e Esgotos (Cedae), responsável pelo tratamento de água na
cidade. Não se sabe por que uma das concessionárias fornece a informação
publicamente, enquanto a outra não diz nada sobre o assunto.
Depois de muita espera e de uma
dezena de e-mails trocados, recebi quase todas as análises da capital paulista
feitas pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp),
encarregada da água e do saneamento na metrópole. No primeiro envio, porém,
faltavam vários dos parâmetros considerados pela portaria do Ministério da
Saúde. Por quê? Não há como saber. Depois de insistir mais, recebi todos os
dados (aqui, aqui, aqui e aqui).
Como primeiro resultado dessa investigação sobre a
qualidade da água, posso dizer que, em São Paulo e no Rio de Janeiro, dá para
beber a água da torneira sem correr o risco de ser vítima de uma contaminação
microbiológica. Ninguém vai passar mal, nem ter diarreia. É preciso, no entanto,
verificar se a caixa d’água do imóvel está limpa. Tanto em um prédio como em
uma casa, ela precisa ser lavada a cada seis meses. Nos condomínios, o síndico
é o responsável por cuidar da execução do serviço. Nas residências, o
proprietário tem que fazer o trabalho ou contratar uma empresa para isso. Se a
limpeza estiver em dia, tudo bem.
A água usada para abastecimento
público passa por um processo de tratamento e desinfecção mecânico e químico,
que elimina toda a poluição microbiológica (coliformes totais – grupos de
bactérias associadas à decomposição da matéria orgânica – e Escherichia coli).
“A água da torneira é controlada várias vezes por dia, para se ter certeza de
que está sempre dentro dos padrões de qualidade”, afirma Jorge Briard, diretor
de produção de água da Cedae, no Rio. Mas o fato de se poder beber a água da
torneira não quer dizer que o líquido não esteja poluído – e que não possa
causar problemas de saúde no longo prazo.
Regras “adaptadas à realidade
brasileira”
Na água do abastecimento público
existem vários tipos de poluentes tóxicos. Estudos científicos associam o
consumo de muitos deles ao aumento da incidência de câncer na população,
enquanto outros têm efeitos ainda pouco conhecidos na saúde. Estão presentes na
água que bebemos substâncias químicas como antimônio, arsênio, bário, cádmio,
chumbo, cianeto, mercúrio, nitratos, triclorobenzeno, diclorometano;
agrotóxicos como atrazina, DDT, trifluralina, endrin e simazina; e
desinfetantes como cloro, alumínio ou amônia.
Tanques usados nas quatro fases do
processo de tratamento de água da Estação do Guaraú, em São Paulo
A mudança reflete a crescente
poluição da indústria, que utiliza metais pesados e solventes; do setor
agrícola, que usa agrotóxicos e fertilizantes; e de todos nós, que limpamos a
casa com cada vez mais produtos químicos. A assessoria de comunicação do Ministério
da Saúde afirma que as substâncias que hoje estão na Portaria 2.914/2011 foram
escolhidas a partir “dos avanços do conhecimento técnico-científico, das
experiências internacionais e das recomendações da Organização Mundial da Saúde
(OMS, 2004), adaptadas à realidade brasileira”.
Exemplo: um estudo de 2009 sobre a
contaminação de mananciais hídricos, liderado pelo pesquisador Diecson Ruy
Orsolin da Silva, da Universidade Federal de Pelotas, monitorou a ocorrência de
agrotóxicos em águas superficiais de sete regiões do sul do Brasil, associadas
ao cultivo de arroz na safra 2007/2008. De todos os produtos detectados –
clomazona, quincloraque, penoxsulam, imazetapir, imazapique, carbofurano,
3-hidróxido-carbofurano, fipronil e tebuconazol – somente o carbofurano é
controlado pela portaria. Isso mostra que muitos dos agrotóxicos utilizados, e
que estão presentes nos meios aquáticos no país, não são fiscalizados pelas
empresas de tratamento de água. Elas não são obrigadas pelo Ministério da Saúde
a fazer o controle.
Em São Paulo e no Rio, os níveis dos
produtos químicos listados na portaria estão dentro dos limites permitidos. Na
verdade, os valores de São Paulo são muitos melhores do que os do Rio. Isso é
uma boa notícia? Sim e não. “Os processos de transformação química quebram as
moléculas tóxicas, fazendo com que desapareçam. Essa manipulação da água cria
outros compostos ou resíduos desconhecidos. Ninguém procura por eles e
evidentemente não estão na portaria. Hoje ninguém sabe quais são os efeitos
dessas moléculas”, diz Fabrice Nicolino, jornalista francês especializado em
meio ambiente. Mesmo concentrações muito baixas de algumas substâncias podem
ser perigosas.
Princípio da precaução
Faz um bom tempo que as empresas
responsáveis pelo tratamento da água conhecem os perigos do alumínio. Em Paris,
a substância deixou de ser usada nesse processo há mais de 20 anos. Adota-se o
cloreto férrico. A prefeitura da capital francesa resolveu fazer a mudança pelo
que é conhecido como princípio da precaução: se existem antecedentes ou
experiências que sugiram um risco, não se espera que a ciência comprove isso. É
melhor prevenir do que lidar com o problema depois.
Quando perguntei à Sabesp e à Cedae
se achavam possível parar de usar o alumínio, a resposta foi clara. “Mas por
quê? O produto funciona muito bem”, disse André Luis Gois Rodrigues,
responsável pela qualidade da água na Sabesp. As duas empresas admitiram
conhecer a polêmica. “Nada foi comprovado. O uso do alumínio é permitido pelo
Ministério da Saúde e também pela OMS. Se um dia for demonstrado que há risco,
com certeza deixaremos de usar”, explicou Jorge Briard, da Cedae. Além de ser
barato, o sulfato de alumínio permite obter uma cor transparente, um pouquinho
azul, bem bonitinha, semelhante à de um rio limpo. Por isso, é bem prático. Ninguém
vai se queixar da cor da água.
Essa relação também é válida para os
agrotóxicos. É bem provável que, comendo legumes não-orgânicos, uma pessoa
absorva uma quantidade muito maior desses produtos do que ao beber água. Fazer
essa comparação é muito complicado, porque o jeito de contabilizar os
agrotóxicos é diferente na comida e na água. Sabemos, porém, que os agrotóxicos
são diretamente aplicados nas plantações, e as medições mostram que estão em
proporção maior nos alimentos do que na água.Vale lembrar que a água não é a
única fonte de absorção do alumínio no corpo. Atualmente a substância
encontra-se em altas concentrações na comida (nos legumes e especialmente nos
aditivos alimentares, como conservantes, corantes e estabilizadores), nos
cosméticos ou nos utensílios de cozinha. De acordo com a OMS, um adulto ingere
cerca de 5 miligramas de alumínio por dia apenas da comida. Para a organização,
os aditivos são a principal fonte de alumínio no corpo. Em comparação, a água
traz um volume muito menor: em média 0,1 miligrama por litro, o que pode somar
0,3 miligrama se você bebe 3 litros por dia. Segundo a entidade, o alumínio na
água representa só 4% do que um adulto absorve.
Por conta da grande utilização de
medicamentos na criação de animais hoje, os cientistas reconhecem que a dose
diária de absorção de antibióticos e hormônios de crescimento é mais importante
pela comida do que pela água. O professor Wilson Jardim, da Unicamp, explica,
no entanto, que isso não muda o fato de que, mesmo em doses pequenas, os
contaminantes presentes na água possam ter um efeito negativo na saúde.
A saída é a garrafinha?
Seria então melhor para a saúde beber
água engarrafada, que chega a custar 800 vezes mais do que a água da torneira?
A resposta, de novo, não é simples. Em tese, a água envasada tem melhor
qualidade por ser subterrânea, o que oferece uma proteção natural contra
contaminação. Mas encontrar informações sobre a qualidade da água mineral
também é muito complicado no Brasil. A Associação Brasileira de Indústria de Água
Mineral (Abinam), que representa as envasadoras da água, negou os pedidos de
entrevista para esta reportagem. A comunicação também não é muito aberta do
lado das autoridades.
Na verdade, não há como ter acesso à
documentação sobre a qualidade da água engarrafada. Para obter a lavraria e a
renovação da concessão, uma empresa de água mineral recebe, a cada três anos, a
visita dos funcionários do Laboratório de Análises Minerais (Lamin) da
Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), um órgão federal. Os
resultados das análises são comunicados à empresa e ao Departamento Nacional de
Produção Mineral (DNPM), responsável pela água mineral no país, mas não ficam
disponíveis para o público. Por quê? Não recebi resposta do DNPM.
Essas análises teriam que ser feitas
seguindo a resolução RDC 274/2005, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa). A norma inclui agrotóxicos e é bem parecida com a portaria que regula
a água da torneira. Além de os dados não estarem disponíveis publicamente,
outro problema é a forma de fiscalização das fontes. O Lamin do Rio faz
análises no país todo, enquanto o de São Paulo concentra-se no estado de São
Paulo, onde fica a maior concentração de concessões de água mineral do país.
Até o início de 2013, o Lamin do Rio não tinha os equipamentos necessários para
fazer as análises dos agrotóxicos, e só no fim de 2014 o Lamin de São Paulo
deverá fazer esse trabalho. Ou seja, a resolução levou oito anos para começar a
ter todos os seus itens verificados.
Isso não acontece com a água da
torneira, que é muito mais controlada. Primeiro, porque ela precisa chegar a
toda a população. Segundo, porque a água bruta, a partir da qual se produz a
água potável, vem em geral da superfície e está mais sujeita a todo tipo de
contaminação. Isso requer atenção constante e análises mais frequentes. A água
mineral vem de lençóis subterrâneos, onde fica confinada. É menos poluída do
que a que vem dos rios e não recebe nenhum tratamento químico. Depois de um ano
fazendo as análises de agrotóxicos, o Lamin do Rio disse que não encontrou
esses produtos nas águas minerais de todo o país, com exceção de São Paulo
(onde ainda não fazem essa análise e onde está a maior parte das fontes). Mas
não tive acesso aos documentos que comprovariam isso.
Ao procurar informações adicionais,
descobri que, em São Paulo, a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental
(Cetesb) iniciou, em 2011, o monitoramento de lençóis subterrâneos do estado em
relação à presença de contaminantes e à atividade estrogênica – ou seja, à
capacidade de algumas substâncias agirem no sistema reprodutivo humano,
antecipando, por exemplo, a puberdade nas meninas ou produzindo esterilidade
nos homens. “Não foi detectada atividade estrogênica na maioria dos 33 pontos de
amostragem, selecionados em função de sua maior vulnerabilidade. Apenas três
locais apresentaram atividade estrogênica baixa. Isso significa que não há
potencial de preocupação para a saúde humana se a água for consumida”, explica
Gilson Alves Quinaglia, gerente do setor de análises toxicológicas da Cetesb.
As empresas de água mineral usam na
publicidade o argumento de que a água subterrânea está confinada e,
consequentemente, fica protegida da poluição moderna. Seria bom se fosse assim,
mas existem estudos que comprovam que a poluição pode chegar a todos os lugares
– até mesmo ao subsolo.Agrotóxicos e medicamentos
No ano passado, uma pesquisa
encomendada a laboratórios independentes pelas ONGs 60 Milhões de Consumidores
e Fundação Danielle Mitterrand-France Libertés, na França, encontrou tanto
agrotóxicos como medicamentos na água engarrafada. “Foi uma surpresa, porque
mostra que até a água mineral está poluída. Achamos um agrotóxico, a atrazina,
usado no cultivo do milho, que está proibido no país há mais de dez anos. Essa
substância tem a propriedade de ser muito persistente no meio ambiente. O que
significa que, em dez anos, chega ao subsolo”, explica Thomas Laurenceau, da 60
Milhões de Consumidores.
A contaminação não é causada pelas
envasadoras de água, e sim pela deterioração geral do meio ambiente. “As
empresas de água mineral sempre estão tentando proteger as fontes. Não depredam
o meio ambiente. Não é conveniente para elas”, afirma Doralice Assirati, do
DNPM. Na Europa e nos Estados Unidos, algumas delas foram obrigadas a fechar
explorações, por conta da poluição detectada.
Uma das contaminações possíveis no
Brasil seria pelas fossas sépticas, que, às vezes, são malfeitas. No estado de
São Paulo, muitas envasadoras de água ficam em áreas urbanas, porque a
proximidade do consumidor ajuda o negócio a ser mais lucrativo. Mas, na
verdade, o maior problema das águas envasadas não vem do líquido, mas do
contêiner de plástico. Se as garrafas e os garrafões fossem de vidro,
poderíamos confiar mais na qualidade. Só que os problemas causados pelo uso do
plástico já são bastante conhecidos e estudados.
PET, PP, PE, PVC, PC
O mundo dos plásticos é complicado.
Aproximadamente 75% da água envasada no Brasil está em garrafões. “Eles podem
ser confeccionados em todo e qualquer plástico – PVC, policarbonato (PC),
polipropileno (PP) e polietileno (PE) –, desde que obedeçam aos regulamentos da
Anvisa para embalagens em contato com alimentos”, afirma Carla Castilho,
assessora técnica do Instituto Nacional do Plástico. Isso na teoria. Na
prática, a indústria fabrica 90% dos garrafões em polipropileno e o restante,
em politereftalato de etileno (PET) e policarbonato, segundo o Instituto
Nacional do Plástico. O polipropileno tem custo baixo para o produtor. Isso é
uma boa notícia, porque é o plástico menos propenso a ter Bisfenol A (BPA), uma
substância química perigosa usada na produção.
A Anvisa autoriza o uso de BPA em
materiais plásticos destinados ao contato com alimentos e estabelece, como
limite seguro de migração, 0,6 miligrama por quilo de alimento e 0,6 miligrama
por litro de bebida. A agência limita-se a estabelecer a quantidade de BPA que
pode migrar de um produto para o alimento, não a quantidade máxima presente no
produto.
Vários países europeus, como França e
Dinamarca, estão proibindo o BPA nas embalagens de alimentos. Isso não tem
relação com o nível de migração, e sim com os materiais onde está presente o
BPA, como o policarbonato e as resinas epóxi em todas as latas de alumínio. É
alta a probabilidade de que a Autoridade Europeia de Segurança Alimentar (EFSA)
reduza o nível de migração de 0,5 miligrama por quilo por dia para até 0,005
miligrama por quilo por dia.
No Brasil, somente as embalagens da
água mineral Indaiá, do Grupo Edson Queiroz, um dos maiores do país, são feitas
de policarbonato. Técnicos da empresa enviaram análises para nos convencer de
que não há nenhum problema com os recipientes em policarbonato. Os resultados
do laboratório, de fato, são ótimos. Só que os problemas causados pelos
plásticos não acontecem quando as embalagens são novas, mas com a manutenção, a
exposição ao calor e as múltiplas lavagens dos garrafões, que podem ser usados
durante três anos. “Não podemos nos responsabilizar pela manutenção. Não
depende da gente”, disse Francisco Sales, gerente industrial do grupo Edson
Queiroz. Não, mas também ninguém pode dizer que a degradação dos plásticos não
traz problemas para o consumidor. A degradação do PET, material das garrafas
descartáveis, não é algo com que se preocupar se o recipiente for usado uma vez
só.
Estudos científicos mostram ainda
que, com o tempo, mesmo a qualidade da água mineral se degrada. Em 2009, uma
pesquisa realizada por Martin Wagner e Jörg Oehlman, da Universidade de
Frankfurt, na Alemanha, detectou interferentes endócrinos – isto é, substâncias
artificiais que agem no nosso corpo por serem parecidas com hormônios – em 12
das 20 amostras de água mineral analisadas. Os dois cientistas também inseriram
moluscos em garrafas PET e de vidro e notaram que, nos recipientes plásticos,
houve reprodução em uma velocidade maior. Isso também indica a presença desses
contaminantes, que podem ter se desprendido do plástico das garrafas. As
indústrias do plástico e da água contestaram os resultados.
Praticamente na mesma época, as
pesquisadoras Barbara Pinto e Daniela Reali, da Universidade de Pisa, na
Itália, detectaram uma contaminação semelhante, mas em menor nível, em amostras
de água mineral italiana. Elas não souberam explicar a origem dos interferentes
que apareceram em 10% das garrafas. Isso levou vários cientistas a pedir para a
indústria do plástico que revelasse os segredos de fabricação, para entender o
que acontece em uma água que fica um certo tempo nesses recipientes. A resposta
foi o silêncio.
Devido à pouca colaboração da
indústria, os problemas causados pelos ftalatos, outros produtos químicos
usados no plástico, ainda são pouco conhecidos e estudados. Tanto os ftalatos
quanto o BPA estão presentes em praticamente todo o plástico que há nas nossas
casas. Os ftalatos são usados na fabricação de acessórios domésticos (piso,
papel de parede), produtos infantis (mamadeiras, brinquedos, colchonetes para
troca de fraldas, mordedores), embalagens (filme transparente, garrafas
descartáveis) e até em utensílios médicos (cateteres, bolsas de sangue e soro).
O BPA está nos equipamentos esportivos, em dispositivos médicos e
odontológicos, produtos para obturação dentária e selantes, lentes para os
olhos, todos os produtos com PVC, e policarbonatos, CDs e DVDs,
eletrodomésticos, embalagens de plástico duras, jarras de água em plástico duro
e latas de alumínio.
“Existem na vida janelas de exposição
do BPA mais problemáticas do que outras. As crianças são mais expostas do que
um adulto. Também ocorre maior migração de produtos químicos para a comida ou a
água com o calor”, diz o pesquisador Wilson Jardim, da Unicamp. Ou seja, ainda
falta muita informação sobre o perigo dos produtos e a toxicidade dos que já
estão no meio ambiente. Hoje, temos consciência do perigo de substâncias que a
geração anterior à nossa usava de maneira regular, como o DDT. Mas, como
acontece agora, a indústria ou não informava ou negava o problema da
contaminação.
Qual água é melhor?
É impossível saber se a água envasada
é de melhor qualidade do que a água da torneira, pois há muito pouca informação
sobre o uso de recipientes plásticos. A água tratada também tem poluentes em um
nível pouco conhecido, mas com certeza menor do que o da comida não orgânica. A
grande diferença entre as duas é que a água envasada traz ainda mais problemas
para o meio ambiente, pelo fato de gerar lixo, aumentar as emissões de carbono
e envolver consumo de energia na sua produção.
Qual é a água que devemos beber?
Responder a essa pergunta, que já é complicado atualmente, será ainda mais
difícil para a próxima geração, por causa do aumento nos níveis de poluição no
meio ambiente. Será que morar no campo é garantia de encontrar água pura? Hoje
isso já não acontece. No Brasil e em outros países, a qualidade da água em
zonas de produção agrícola como as do Mato Grosso é bem ruim, devido ao uso
intensivo dos agrotóxicos.
Parece que o único caminho para
salvar a água potável é o da cidadania. As melhores experiências para se obter
uma qualidade de água razoável ocorrem quando os cidadãos participam da gestão
da água, fiscalizando as empresas de tratamento e exigindo que as autoridades
aumentem o orçamento para o recurso “água”.
Hoje, o monitoramento das
concessionárias no Brasil é feito pelas agências de vigilância sanitária de
cada estado. Mas até as empresas reconhecem que não há fiscalização. As
autoridades não parecem ter vontade de aumentar o orçamento para saneamento,
mesmo sabendo, há muitos anos, que isso é mais do que necessário para melhorar
tanto a água e o meio ambiente quanto a saúde das pessoas.
Ainda é possível mudar as coisas. As
soluções existem, só que custam caro. No mesmo estudo sobre a contaminação das
garrafas de água com agrotóxicos e medicamentos, as ONGs foram para regiões
mais poluídas da França (nem toda a França é como Paris), onde os agrotóxicos
chegam a níveis bem acima do permitido pela legislação, há muitos anos. A
poluição obrigou as autoridades a investir em tecnologia de ponta para melhorar
a qualidade da água. Conseguiram. Entre essas novas tecnologias estão
nanofiltração, ultrafiltração, osmose reversa e tratamento com raios
ultravioleta solares. Mas, para que os impostos sirvam a essa causa, a
mobilização das pessoas é obrigatória.
No Canadá, na Europa, no México ou na
Bolívia, existem numerosos exemplos de como a população retomou o poder sobre a
qualidade, o preço e, inclusive, a propriedade da água. Também é necessária a
vontade política das autoridades para limitar o uso de produtos químicos no
meio ambiente e aumentar o apoio à agricultura orgânica. E da ajuda de todos no
momento das compras – um consumo consciente, que prefira produtos menos danosos
ao meio ambiente, tanto na fabricação quanto na vida útil. Isso significa não
trocar de celular a cada novo modelo ou deixar de beber três pequenas garrafas
plásticas de água por dia.
FONTE:ULTIMOSEGUNDOIG.COM.BR
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