É melhor o Brasil ter 39 ministérios ou 10?
Esta não
é a discussão principal. O importante não é o número em si, mas encontrar uma
forma de medir a eficiência do Estado
São Paulo - Certos
órgãos foram desenvolvidos pelo Estado para observar o mercado e, quando
necessário, intervir. São instituições fundamentais, existentes em todo o mundo
civilizado e dispensam explicações. O Banco Central, a Comissão de Valores
Mobiliários, entidade máxima do mercado de capitais, as agências reguladoras e
o Tesouro Nacional são bons exemplos. Mas em que categoria se encaixaria a
Secretaria Especial da Micro e Pequena Empresa, o recém- aprovado 39o
ministério brasileiro?
O Brasil tem 6 milhões
de micro e pequenas empresas abertas por pessoas corajosas, que arriscam seu
patrimônio em nome da realização de um sonho. Essa força viva da economia gera
15 milhões de empregos formais. De que forma o Estado poderá ser
útil a essa legião de empresários com o novo ministério?
Como a resposta será
dada pelo tempo, e a única certeza até agora é que teremos quase 40 ministros
em ação, o anúncio da nova pasta produziu uma saraivada de críticas. E deixou a
pergunta no ar: existe um número ideal de ministérios?
O Brasil estreou a
República com poucos ministérios. O marechal Deodoro da Fonseca estruturou seu
governo com oito pastas. Na República Velha, tivemos, em média, nove
ministérios, que viraram dez com Getúlio Vargas e 11 com Juscelino Kubitschek.
No final do regime militar, João Figueiredo governava com 16 ministros.
Com a
redemocratização — e premido pela necessidade de acomodar com cargos o arco de
alianças políticas que o apoiava —, Tancredo Neves desenhou uma Esplanada com
23 ministérios. Que viraram 31 com José Sarney, 34 no segundo governo de
Fernando Henrique Cardoso e 38 com Luiz Inácio Lula da Silva. O ex-presidente
Fernando Collor, que se elegeu em 1989 prometendo cortar a máquina herdada de
Sarney, até operou com 17 ministérios. Mas complementou a equipe com 13
secretarias ligadas à Presidência. Ou seja, 30 nomes no primeiro escalão.
O que fez com que
multiplicássemos por 5 o total de ministros existentes no início da República?
Em parte, o desenvolvimento do Brasil. Uma das pastas de Deodoro da Fonseca se
chamava Agricultura, Comércio e Obras Públicas, hoje compreensivelmente fatiada
em três ministérios. Outro motivo é a vontade dos governos de dar ênfase a um
tema de campanha, como a Secretaria de Políticas para as Mulheres.
Há ainda a natureza
de nossa estrutura política.
Nas democracias mais estáveis do mundo, os governos constroem maioria no
Parlamento com o apoio de no máximo quatro partidos. No Brasil, para atingir
maioria no Congresso, o governo precisa atrair 18 partidos. Os dois maiores
partidos da base do governo controlam 22 ministérios (17 do PT e cinco do
PMDB). É assim com Dilma. E foi assim com Lula, Fernando Henrique, Itamar
Franco...
Ainda que haja uma
explicação políticopartidária para a explosão ministerial, a pergunta feita no
início deste texto continua em aberto: é possível estabelecer um número
ideal de ministérios? Se não houvesse injunções políticas, se vivêssemos num
país asséptico, quantos ministros o Brasil deveria
ter? A resposta honesta: é impossível responder. Simplesmente porque não dá
para avaliar a eficiência da máquina pública só pelo tamanho do ministério.
Que seria melhor para
a presidente Dilma despachar com um número menor de assessores de primeiro
escalão, ninguém duvida. Mas a história é mais complexa do que uma relação
direta entre cadeiras ministeriais e qualidade do governo. O Reino Unido é um
exemplo de país desenvolvido. E todos torcem para que Botsuana deixe um dia de
ser subdesenvolvido. Pois os dois países têm um número quase igual de
ministérios. O Reino Unido tem 18. E Botsuana, 17. De duas, uma. Ou vamos
concluir, equivocadamente, que na África a meta de poucos ministérios não se
aplica. Ou vamos concluir, acertadamente, que não há relação entre
desenvolvimento e número de ministérios.
Prestação de contas
O número excessivo de
ministérios pode até ser o sintoma de uma doença grave, mas seguramente não é a
sua causa. A questão central é outra. O Estado brasileiro, que deveria ser
musculoso, é gorduroso, gelatinoso, inconsistente, ineficaz e dispendioso. A
crítica vale para a Esplanada, mas também para todas as esferas do Poder
Público. Existem no Brasil 5 500 municípios, uma parte significativa vivendo de
repasses do governo federal. E cada um deles cultivando sua estrutura
burocrática.
Estima-se que sejam
quase 70 000 os secretários municipais. O que dizer da Justiça Militar? Para
que serve? Faz sentido manter funcionando uma estrutura cara que se presta a
julgar crimes comuns cometidos por militares? Imagine-se a cena ocorrida em
fevereiro no Superior Tribunal Militar, instância máxima da Justiça castrense.
Os 15 ministros (15!) debruçaram-se sobre o seguinte caso: decidir a punição a
uma sargento da Aeronáutica que havia furtado o cartão de crédito de uma
colega, efetuado saques e feito compras numa loja de sapatos. Importante, não?
E o que dizer da Justiça do Trabalho?
O que devemos exigir
é que todas essas instituições sejam obrigadas a prestar contas à sociedade.
Avaliar se os ministérios e toda a máquina estatal estão cumprindo a missão
para a qual foram criados. O Ministério da Pesca melhorou a qualidade da piscicultura
brasileira? Se sim, parabéns. Se não, para que mantê-lo funcionando? O
Ministério do Desenvolvimento Agrário disse a que veio? E por aí adiante.
As empresas são
obrigadas a prestar contas aos acionistas publicando o balanço anual. Ali,
apresentam o que fizeram naquele ano, abrindo os números que comprovam sua
ineficiência ou sua eficiência, segundo critérios contábeis aceitos
internacionalmente. Por que não exigir dos ministérios que apresentem um
balanço anual de suas realizações? Não vale dizer que eles já submetem seus
números ao Tribunal de Contas.
O que se pode estudar
é a adoção de um balanço social dos ministérios, a ser divulgado à sociedade
uma vez por ano. Ali se listariam todas as promessas e suas concretizações. Os
que não comprovassem sua utilidade poderiam ser fechados. A regra poderia valer
não apenas para os ministérios, mas para todas as secretarias estaduais e
municipais.
Para manter-se
operacional, o Estado brasileiro retira da sociedade 40% do PIB na forma de
impostos, taxas e contribuições — e ainda assim faltam médicos. O que o
Ministério da Saúde e as secretarias estaduais têm a dizer sobre isso? A
discussão em torno do novo ministério é saudável, mas há por trás uma questão
de fundo. Todos os órgãos públicos precisam ser avaliados de forma
transparente. Com isso, a discussão sobre o tamanho do Estado ganharia
indicadores objetivos. E o Brasil, a chance de um salto de qualidade.
FONTE:EXAME
Dilma
rejeita cortes de ministérios e diz que ela e Lula são indissociáveis, diz
jornal
SÃO PAULO, 28 Jul - A presidente Dilma Rousseff afirmou em entrevista
publicada neste domingo que nunca relaxou no controle da inflação ou das contas
públicas, que não pretende reduzir ministérios e que ela e o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva são "indissociáveis".
Ao ser questionada se o ministro da Fazenda, Guido Mantega, está
garantido no cargo, a presidente respondeu em entrevista publicada na edição
deste domingo da Folha de S.Paulo: "O Guido está onde sempre esteve, no
Ministério da Fazenda". E acrescentou que não iria falar de uma reforma
ministerial.
Em seu pior momento de governo, com fortíssimas quedas de popularidade
depois das manifestações que tomaram as ruas das principais cidades do país no
mês passado, a presidente disse que reduzir ministérios não diminuiria custos e
atingiria apenas pastas menores, como Igualdade Racial, que não têm máquina,
mas têm tido um papel importante na formulação de políticas públicas.
"Não estou cogitando isso. Não acho que reduza custos. As medidas
de redução de custeio nós tomamos. Todas", disse.
Ao ser questionada se teria relaxado o controle da inflação para manter
o crescimento, a presidente disse: "Ah é? Tá bom. E como é que ela tá
negativa agora?", referindo-se à taxa de -0,02% no acompanhamento diário que
ela afirmou ser feito pelo governo.
A presidente garantiu ainda que será cumprida a meta da inflação para
este ano, de 4,5 por cento mais uma tolerância de 2 pontos percentuais.
Sobre a política fiscal, Dilma argumentou que a relação entre a dívida
líquida e o Produto Interno Bruto (PIB) nunca foi tão baixa e que a dívida
bruta está caindo.
No sábado, a Reuters obteve uma cópia de carta enviada por Mantega à
diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde, pedindo
uma revisão na metodologia que o FMI usa para medir a dívida bruta, alegando
que ela infla o indicador do Brasil.
Confrontada com o fato de o Brasil estar crescendo pouco -o PIB se
expandiu apenas 0,9 por cento em 2012 e apenas 0,6 por cento no primeiro
trimestre deste ano em relação ao último trimestre do ano passado— Dilma disse
que o "o mundo cresce pouco" e que não se tem mais "aquele vento
a favor" que havia antes.
2014
Ao comentar os pedidos de "volta Lula", que ganharam força
após sua queda de popularidade, Dilma disse que acha que "Lula não vai
voltar porque ele não foi, ele não saiu".
"Ele disse outro dia:... ‘vou estar velhinho e fazendo
política", afirmou a presidente.
Questionada se ele não voltaria à Presidência nunca mais, ela respondeu:
"isso eu não sei". Em reação à insistência da repórter que fazia a
entrevista, que perguntou se ele deixaria de voltar ao menos em 2014, a
presidente desconversou: "esses problemas de sucessão eu não discuto, quem
não é presidente que tem que ficar discutindo isso".
FONTE:REUTERS
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